Residência artística realizada no Bairro da Tabaqueira em Albarraque, Sintra – março a junho 2023 – com o colectivo artístico constituído por Lígia Fernandes, Mariana Santos e Nicole Sánchez. Curadoria ZET GALLERY, SMILE sintra, Câmara Municipal de Sintra, DST Group, Fundação Aga-Khan.
SINOPSE
Numa abordagem sobre o tecido socio-cultural e território urbanístico do Bairro da Tabaqueira debruçámo-nos sobre a memória coletiva que partindo de uma abordagem artística/ antropológica/ social/ urbana, desenvolvendo um projecto-investigação colaborativo focado no entendimento da cultura do bairro, a sua re-imaginação, criando um arquivo de memória, que foi devolvido aos habitantes do bairro, para que estes lhe possam dar continuidade.
O projecto assumiu a fotografia como o ponto de partida central para a proposta de trabalho. Entendemos a imagem fotografada como o meio de conservação da memória visual mais transversal em utilização durante o período de vida do bairro (décadas de 60 à actualidade), aquele a que estão ancoradas as memórias, as ligações familiares, os períodos históricos, o quotidiano, e também como ferramenta de trabalho comum entre as três artistas que integram a proposta. Lígia Fernandes, Mariana Santos e Nicole Sánchez possuem uma prática artística entrelaçada com a imagem fotografada, tanto no seu carácter relacional, como prática ou arquivo, influenciando outras linguagens visuais, como a pintura, o mural ou o desenho, ou mesmo transdisciplinares, sendo esta cruzada com a instalação, áudio/texto/vídeo, a arte pública e participativa, economias comunitárias ou a arquitectura/ urbanismo.
Através da imagem acedemos a três momentos da memória do bairro: o seu passado, representado pela memória das gerações mais antigas; o presente, pelos jovens, crianças, e novos moradores; e o futuro, pela sua re-imaginação, exercício que propomos fazer em conjunto através do encontro, mediado pela arte, entre as várias gerações e comunidades.
Partindo da pergunta, o “que significa a cultura do bairro da Tabaqueira?” ou da questão maior “quais as histórias de outros bairros contidas na história do bairro da Tabaqueira?” propomo-nos escutar as vozes e as vivências dos habitantes deste bairro criado de raiz por interesses económicos e fruto de decisões “top-down”, enfrentando as utopias e desmantelamentos de um projecto capitalista, assim como de uma ditadura. Que cultura se constrói entre tantas condicionantes?
Através de iniciativas inspiradas em projectos contínuos como “Estúdio do Bairro” de Nicole Sánchez – um estúdio fotográfico aberto às comunidades do bairro, a “Avó não me contou” – um arquivo contínuo de desenhos, histórias de vida e depoimentos orais construído a partir de arquivos privados de mulheres em diferentes partes do mundo; e dos inúmeros murais espalhados pelo território nacional e internacional de Mariana Santos criados a partir de arquivos fotográficos e em colaboração com as comunidades, pretendemos celebrar, materializar, significar, transformar, reinventar e devolver a cultura de um Bairro, num acto sustentável e cíclico do seu percurso de vida comum.
